As colunas [sem surround]

7.14.2005

# 5

Mão Morta, Mutantes S. 21 [Fungui, 1992]

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Lisboa [Por Entre as Sombras e o Lixo]
/ Amesterdão [Have Big Fun] / Budapeste [Sempre a Rock & Rollar] / Barcelona [Encontrei-a na Plaza Real] / Marraquexe [Pç. das Moscas Mortas] / Berlim [Morreu a Nove] / Paris [Amour A Mort] / Istambul [Um Grito] / Shambalah [O Reino da Luz]

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Este foi o primeiro disco, digamos, conceptual dos Mão Morta, banda que ainda não fez [não sabe fazer?] um mau disco. Mutantes S. 21 é um álbum de cidades, ou melhor, um álbum de histórias citadinas transformadas em canções. Este é um disco de ambientes diversos, reflexo das cidades, das histórias e personagens que o percorrem. com partida em Lisboa e chegada a Shambalah [cidade imaginária, porto de abrigo, cidade-salvação talvez], os Mão Morta viajam por algumas das cidades míticas contando histórias nas quais o submundo e a decadência são o denominador comum. Este é também um disco onde os Mão Morta abordam diversas linguagens musicais dando-lhes uma personalidade própria e adaptando-as à sua própria [e muito personalizada] linguagem / estética [por exemplo, o refrão de Lisboa recorda-me sempre o rock'n'roll sujo dos Motörhead, Budapeste convoca os Velvet Underground, Paris tem nítidas influências de algum metal mais extremo]. Não acho que este seja o melhor álbum da carreira da banda de Adolfo Luxúria Caníbal, mas ainda hoje é o disco pelo qual nutro maior carinho. Vá-se lá saber porquê.
Dos Mão Morta já conhecia os trabalhos anteriores [a K7 Mão Morta e os álbuns Mão Morta, Corações Felpudos, O.D. Rainha do Rock & Crawl] e haveria de ouvir todos os seguintes e são a banda que mais vezes vi ao vivo, em diversos locais e diferentes situações. Nunca, mas nunca, me desiludiram. Nunca lhes ouvi um mau disco, nunca vi um mau concerto [e assisti a alguns verdadeiramente extraordinários]. Recordo particularmente uma noite memorável no Rivoli do Porto, num concerto com os Pop Dell'Arte, que também por aqui irão passar [*], em 1988 [um ano de grandes estreias para mim: Peter Murphy no Rivoli, The Woodentops em Matosinhos, Jesus and Mary Chain e Nick Cave & The Bad Seeds, ambos no Pavilhão do Restelo].

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1992, ano da edição de Mutantes S. 21, foi pessoalmente um ano de mudanças radicais: em Setembro saí de Coimbra, comecei a trabalhar [em Fornos de Algodres!] e em Dezembro [a 15] concluí a minha licenciatura. Nesse mesmo ano desaparecia a Jugoslávia; nos Estados Unidos o serial killer Jeffrey Dahmer, o boxeur Mike Tyson, o mafioso John Gotti e o o ex-líder do Panamá Manuel Noriega eram condenados a penas de prisão enquanto os polícias que espancaram Rodney King eram absolvidos, o que levaria a vários dias de motins em Los Angeles, Bill Clinton derrota George Bush e Ross Perot na presidenciais e no Brasil Fernando Collor de Melo abandonava a presidência por corrupção; no Reino Unido, Isabel II declarava 1992 annus horribilis [devido aos variados escândalos que ao longo desse ano abalaram a monarquia]. Este foi ainda o ano em que a Igreja Católica pediu desculpas pelo processo da Inquisção contra de Galileu Galilei. Por cá, continuava a esbanjar-se os milhões da Comunidade Europeia e Cavaco Silva ainda acreditava no "p'ogresso" e num "novo homem portugês".

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[*] Talvez nessa altura evoque algumas das memórias que guardo desse concerto.