As colunas [sem surround]

8.25.2005

# 11

Ministry, The Mind Is A Terrible Thing To Taste [Sire / WEA, 1989]

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Thieves / Burning Inside / Never Believe / Cannibal Song / Breathe / So What / Test / Faith Collapsing / Dream Song [*]

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No final dos anos 80 converti-me aos prazeres da fusão do industrial com o rock de feições metálicas. Principais culpados dessa conversão foram os Young Gods [primeiro] e os Ministry [logo a seguir]. Se relativamente aos Young Gods me falta[va]m palavras para descrever a relação que com eles mantenho, já com os Ministry encontro rapidamente uma: obsessão. A obsessão começou a desenhar-se com The Land Of Rape And Honey [fantástica perversão de uma expressão com que alguma América gosta de se descrever, para os mais desatentos: the land of milk and honey], consolidou-se com este The Mind Is A Terrible Thing To Taste [outra perversão, creio que de uma expressão anglo-saxónica: the mind is a terrible thing to waste] e tornou-se caso clínico com o vídeo In Case You Didn't Feel Like Showing Up [1990]. Ritmos tribais-repetitivos e.. obsessivos, um baixo cardiacamente minimal [cortesia do actualmente ausente Paul Barker], guitarras estridentes e a gritaria de Al[ien] Jourgensen [apoiado por nomes magnos da música industrial como Chris Connelly, William Rieflin ou David Ogilvie] fazem ainda hoje deste disco uma peça assustadora, grandiosa e incontornável [odeio este adjectivo].

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Em 1989 a velha ordem nascida da Segunda Guerra Mundial dava os últimos suspiros, com o momento mais simbólico a ocorrer a 9 de Novembro com a queda do infame Muro de Berlim. Em Janeiro o Japão saudava o seu novo imperador [Akihito] e as tropas cubanas começavam a retirar de Angola, falso alarme de paz em Angola, enquanto nos Estados Unidos, George Bush tomava posse como presidente e o serial killer Ted Bundy era executado na Florida; em Fevereiro, as últimas tropas soviéticas abandonavam Cabul [Afeganistão], no Paraguai caia mais uma das famosas ditaduras sul-americanas e o líder espiritual do Irão - o Ayatollah Khomeini - decretava a morte de Salman Rushdie devido aos Versículos Satânicos. Em Março o Exxon Valdez destruia a costa do Alasca, algumas semanas depois o Exército Vermelho massacrava 20 georgianos em Tbilissi e o Exército Chinês seguia-lhe o exemplo em na Praça de Tiananmen [fazendo mais vítimas, perante as câmaras de televisão] um dia depois da morte de Khomeini [Junho]. Nesse ano morreram ainda Salvador Dali, o realizador John Cassavets, o actor Laurence Olivier, a actriz Bette Davis, o maestro Herbert von Karajan, os escritores Samuel Beckett e George Simenon e os portugueses Fernando Namora e Adolfo Simões Muller [ambos escritores]. 1989 foi ainda o ano da estreia de Seinfeld, de Clube dos Poetas Mortos [vá-se lá saber porquê, o filme da vida de muita gente...], Histórias de Nova Iorque [de Woody Allen, Francis Ford Copolla e Martin Scorcese] e O Meu Pé Esquerdo [filme que deu fama a Daniel Day-Lewis]. Por cá, os dias corriam mansos e Camilo José Cela ganhava o Prémio Nobel da Literatura [o homem era galego, Galiza é menos espanhola que portuguesa, certo?!]. Eu mudava o rumo dos meus estudos académicos e em Dezembro, de férias na bela Antuérpia, via na televisão belga os cadáveres de Ceasescu e da mulher, que o Diabo os conserve em eterno tormento.

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[*] Este tema não consta na edição em LP